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Foto do escritorDawton Valentim

Como seria minha redação no Enem 2024

Atualizado: 7 de nov.

Apresentar uma redação exemplar sobre um tema tão relevante como “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” é essencial para ajudar estudantes a entenderem como construir argumentos sólidos e relevantes no modelo Enem.


Neste post, compartilho uma redação que exemplifica essa abordagem com repertórios culturais significativos, além de uma proposta de intervenção viável e fundamentada.


Para ter acesso à versão editável da proposta de redação da prova de 2024 do Enem, clique aqui.



Imagem de fundo texturizado em papel amaçado, em que se encontram dois pedaços de papel, com as inscrições: o tema da redação do Enem 2024 e a frase desafios para a valorização da herança africana no Brasil.


Minha redação exemplar para o Enem 2024


“Ismália”, poema simbolista de Alphonsus de Guimaraens, narra a breve história de uma mulher delirante que, em busca de alcançar a luz, joga-se da torre de um farol. Em música de mesmo nome, Emicida retoma a personagem do Simbolismo para, junto à figura mitológica de Ícaro e suas asas de cera, construir uma metáfora do racismo, violência que impede jovens brasileiros de alcançarem o sucesso, representado pela lua de Ismália e pelo sol de Ícaro. O rapper, assim, destaca a desigualdade racial estrutural como um dos desafios para a valorização da herança africana na sociedade verde-amarela, fator que pode se somar à ainda baixa representação midiática de comunidades afrodescendentes em produtos culturais nacionais.


Sob esse viés, é inegável que o país ainda tem seu ideal de igualdade racial corroído pelo racismo sistêmico, que marca corpos, culturas e crenças com o estigma da exclusão social. Machado de Assis, autor negro que teve sua imagem embranquecida ao longo de sua história, aborda tal questão em sua vasta obra, como em crônica escrita dias após a abolição da escravatura, em 1888, em que o protagonista, um escravocrata, faz um grande jantar para alforriar Pancrácio, jovem escravizado desde o berço. O texto machadiano denuncia como a discriminação de raça se enraizou na história do país, materializando-se em práticas dissimuladas de subalternização da herança africana, o que sustenta uma lógica racista de desigualdade racial evidenciada também contemporaneamente, como pelos dados do IBGE que apontam os negros como os mais numerosos na população carcerária e os menos representados nos espaços institucionais da política.


Ademais, embora possa haver tentativas de inclusão de pessoas negras em espaços de protagonismo midiático, ainda não é possível dizer que essa parcela populacional tem ampla representação em obras culturais nacionais. Pode-se citar, como exemplo disso, o lançamento do filme que dá continuidade à adaptação cinematográfica da obra “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, que despertou estranheza em parte do público pela escalação da atriz negra Taís Araújo no papel de Nossa Senhora. Tal incômodo, apesar de não ser generalizado, revela que ainda há um longo caminho a ser percorrido na direção de uma efetiva igualdade de oportunidades e de ocupação representativa de espaços midiáticos por artistas afro-brasileiros e pela própria contribuição africana que constituiu significativamente a história do Brasil.


É urgente, portanto, não só discutir sobre os obstáculos do reconhecimento da herança africana no país, mas também propor medidas para superá-los. Assim, cabe ao Poder Executivo, responsável pela administração nacional e pela criação do inédito Ministério da Igualdade Racial, ampliar a realização de campanhas educativas de combate à desigualdade racial. A prática de tal medida pode se dar por meio de parcerias com secretarias estaduais e municipais de ensino, ao longo de todo o ano, a fim de tornar essa discussão própria do calendário escolar e não somente do calendário de feriados nacionais. Além disso, incentivar projetos culturais protagonizados por cidadãos afrodescendentes será fundamental para garantir que mais Ismálias e Ícaros alcancem o sucesso, orgulhosos da herança cultural que carregam e representam.

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